March 16, 2015

LA RESA DEI CONTI (Sergio Sollima, 1967)


Depois de FOR A FEW DOLLARS MORE (1966) e THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY (1967), não restavam muitas dúvidas de que Lee Van Cleef seria uma das estrelas iconográficas do ciclo de spaghetti westerns. Nos filmes de Leone, o cachimbo e o coldre cruzado sobre o estômago permitiram-lhe consolidar uma imagem de marca tão reconhecível como o poncho e o charuto do seu colega Clint Eastwood; essa mesma imagem é transportada para este contido LA RESA DEI CONTI (1967) de Sergio Sollima. Contido porque Sollima dispensa o denso simbolismo católico predominante em muitos dos filmes do ciclo – veja-se, por exemplo, DJANGO (1966) ou SI SEI VIVO, SPARA (1967) – simbolismo que permite as mais das vezes o excesso de um rococó visual pós-moderno, bem como as personagens extravagantes, quase caricaturais, para se centrar numa narrativa de fundo meramente político e social.

E se, por isso, o filme perde algo da estética visual criada por Leone e levada ao extremo por Sergio Corbucci, ganha muito em densidade de caracterização, sobretudo na evolução da personagem de Van Cleef, um caçador de recompensas com ambições políticas que aceita partir à caça de um fugitivo Mexicano, às ordens do seu patrono – um Barão das Linhas Férreas – como se num acto meramente desportivo. Mas a perseguição que se pretendia célere transforma-se numa viagem de transformação pessoal à medida que os recursos de sobrevivência de ‘Cuchillo’ Sanchez (soberbamente interpretado por Tomas Milllian) o arrastam para lá da fronteira do México (privando-o da protecção que a estrela de delegado do xerife lhe conferia), e para o seio de uma sórdida intriga política de violação e corrupção que apenas pode terminar no sangrento confronto final.
 
Millian ganhou também neste filme o estatuto de estrela do spaghetti western, e a sua relação com o determinado mas cada vez mais reticente Van Cleef, não fica aquém daqueloutra entre o Blondi de Eastwood e o Tuco de Eli Wallach em THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY. Relação que atinge o seu pico quando Cuchillo acusa Van Cleef de ter aceite a missão de o caçar sem sequer ter pedido qualquer prova de que a acusação que sobre ele recai (de ter violado e morto uma rapariga menor de idade), acreditando na sua culpabilidade apenas porque ele é Mexicano e pobre (e que os verdadeiros culpados pretendem eliminar por ter testemunhado o crime de que é acusado). Tomás Millian, que ao que consta baseou a sua interpretação no papel de Toshirô Mifune em YOJIMBO (1961), foi tão bem sucedido no desempenho da sua personagem que ‘Cuchillo’ Sanchez regressaria como personagem principal do seu próprio filme, o clássico de culto CORRI UOMO CORRI (1968).

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