Vendo hoje este NAKED – AS NATURE
INTENDED (1961), numa época assoberbada pela gratuidade de cenas de sexo
como as que se podem ver em séries como GAME OF THRONES ou SPARTACUS, e as
generosas doses de nudez feminina (e masculina) que caracterizam a maior parte
das comédias para adolescentes, custa a acreditar que este inocente exercício
de George Harrison Marks possa ocupar um lugar cimeiro entre os filmes que
desbravaram o caminho para estes trabalhos mais recentes.
No entanto, numa época que
deliraria com o primeiro nu frontal feminino no justamente célebre e popular BLOW UP (1966) de Michellangelo
Antonioni, e que apresentava um claro défice entre a crescente liberdade de
costumes e a sua representação nos ecrãs, a mera possibilidade de contemplação
de uns sólidos seios femininos sem qualquer obstáculo era suficiente para gerar
filas de cavalheiros de gabardina diante das bilheteiras dos cinemas do West
End londrino. Ciente de tal facto, Marks, uma daquelas figuras que a vida não
consegue conter, reconhecido fotógrafo de moda e renomado senhor dos nudies de 8mm (que produziu às centenas
ao longo de uma década) apostou em produzir e realizar, quase sem argumento,
aquele que ele próprio descreveu como o mais nu de todos os filmes (“the nudest film of all”), proposta que
certamente não assentaria bem no gabinete de John Trevelyan, director do
famigerado BBFC.
A solução, explorando a jurisprudência vigente no
gabinete da censura, e seguindo o procedimento habitual em filmes desse tipo,
era integrar a nudez num documentário sobre nudismo, propalado como o mais
saudável e natural estilo de vida. Daí que o filme se apresente como um
inocente documentário de viagens que acompanha cinco atractivas moçoilas (todas
elas modelos do próprio Marks) pela Cornualha, rumo ao famoso campo nudista de
Spielplatz, onde por fim se despem alegremente para gáudio da brigada da
gabardina. A principal atracção do filme, à época, era sem dúvida a escultural
Pamela Green (ao centro na imagem supra),
que foi a mais popular modelo feminina britânica do pós-guerra. Para as
audiências de hoje, que explorem o filme – tão inocente – nos seus leitores de
DVD, ao inegável atractivo das actrizes principais (sobretudo Petrina Forsyth e
Jackie Salt, que acompanham Green no seu périplo) soma-se a possibilidade de
visitar vários ex-libris britânicos como Stonehenge, Clovelly, Tintagel e o
anfiteatro Minack de Porthcurno, tal como se mantinham no dealbar da era do
turismo de massas.
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